quarta-feira, 23 de abril de 2008

O caso da menina Isabela, o problema de memória e os auditórios vazios


Acredito que todos desse país ou pelo menos aqueles que possuem acesso a algum tipo de informação tenham ficado estarrecidos com o “caso da menina Isabela” que, lamentavelmente, foi personagem principal de uma tragédia. Estamos chocados, indignados, revoltados com tamanha crueldade e à espera de justiça. Há comentários pelas ruas e todos os programas de televisão usufruem desse acontecimento para subir no IBOPE. O resultado disto é o sensacionalismo da mídia que nos oferece uma gama de informações de alguém que até o mês passado nem conhecíamos.

O que nos faz tão envolvidos com Isabela? Por que isso envolve tanto nossas emoções a ponto de nos indignarmos se nem a conhecíamos? Se morrem crianças todos os dias de dengue, de bala perdida, de fome, por que não descansamos de buscar justiça somente no “caso da menina Isabela”? Por que ficamos estupefatos com algumas coisas, enquanto que com outras nos acostumamos? Por que nos calamos em tantos casos e nos outros, temos excesso de informações?

Os mais achegados a Karl Marx, respondem essas perguntas debatendo com o argumento do fato ter ocorrido numa classe dominante. Daí parte para a ideologia burguesa, utilizando um extenso discurso fundamentado nos parâmetros de Marx. Há aqueles que respondem pelo lado da moral, dos valores e dos costumes de nossa sociedade. É, para esses, um repúdio, numa sociedade cheia de valores, um caso tão cruel. É algo atípico, fora de nossos costumes, e isso choca o povo brasileiro, daí tanto interesse por parte da mídia.

Diante de tais especulações, uma verdade há de um só consenso: a memória do povo brasileiro é muito curta. Aliás, curtíssima. Basta recordarmos o caso da Suzanne Von Richthofen, que auxiliou no assassinato dos pais em 2002. O fato foi tema nacional durante certo período, depois, saiu da pauta dos noticiários. Coincidência: classe dominante e imoralidade.

Alguém se lembra da Gabriela Paz Prado? Também não lembrava. Acontece que houve, em 2007, numa faculdade em Cabo Frio, uma palestra com os pais da menina. Ela foi morta por estar no meio de uma troca de tiro entre policiais e traficantes no metrô do Rio de Janeiro, e os seus pais começaram, desde então, uma busca de assinaturas para respaldar um encaminhamento ao Congresso Nacional de uma emenda popular, onde foram solicitadas algumas mudanças, como por exemplo, impedir o conceito de crime continuado nos casos de homicídio e acabar com o protesto por novo júri. O auditório da palestra estava vazio, Gabriela já não era assunto de nosso cotidiano. Haveríamos esquecido?
Não há que se comparar um caso com o outro. Cada um tem suas especificações. Há sim, de se compreender que o sensacionalismo em torno de uma tragédia como essa, não pode ser apenas para preencher assuntos de pautas. Segundo Marilena Chauí: “A memória é uma atualização do passado (...) composto nesta, aquilo que nos impressionou, que ficou, de alguma forma, gravado em nós(...)" Que toda essa movimentação continue de forma para contribuir com a construção desse país e não como um mero entretenimento de mau-gosto. Acompanhar um caso é diferente de uma novela. Nesta, o capitulo final encerra para sempre um ciclo. Naquele, (que seria a prisão dos culpados da morte de IsabellaNardoni) é parte integrante e intrínseca de um ciclo.






CHAUÍ, Marilena.
Filosofia: ensino médio- livro para análise do professor. Série Brasil .Ática São Paulo 2005

Um comentário:

Andréa Frossard disse...

NÓS TODOS TEMOS UM COMPROMISSO COM A CULTURA DA PAZ!!!!
BEIJUS,

PROFA. ANDRÉA